sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Qual a sua máscara? - Parte III

Boa noite, ou seria, bom dia?!

Como prometido, a última parte sobre máscara! Minha apresentação foi a algumas horas atrás, e bem, o pior aconteceu.... Não, o prédio não caiu, nem faltou luz, ou a máscara se desfez na minha mão! [como vcs são criativos!] ... Mas sim, o projetor simplesmente resolveu não funcionar, ou melhor, o fio decidiu ficar com mau contato...e depois de 7 minutos, o cara do Multimídia apareceu como que por mágica e conseguiu resolver tudo, uma salva de palmas para ele!!!

10 paras as 10 [lembrem-se, da noite!] e eu finalmente consigo começar minha apresentação, depois de uma semana de atraso e mais 7 minutos de problemas técnicos...


Fim da apresentação, passei a máscara para todo mundo poder colocar a mão [sim, eu sou uma pessoa que precisa olhar com as mãos], perguntas dos colegas, e do professor? Não, sem perguntas dele! [alívio...sim, pq eu sonhei com ele algumas noites atrás, e não fui só eu, ok?!]

Sobre a minha máscara: meu tema era sobre a superficialidade dos gregos descrito por Nietzsche em A Gaia Ciência [para quem está achando essa guria pirou na filosofia um aviso: eu não pirei, mas estou mergulhada nela até o fim do semestre, e apaixonada, com certeza!], isso aplicado aos dias atuais, no caso, as cirurgias plásticas e aos tormentos internos. Falo sobre as transformações sofridas, a pressão por parte da sociedade, transformando nossos rostos em telas em branco, onde o cirurgião é apenas responsável pela concretização de nossas idéias de 'pintura', que muitas vezes são nos impostas pela sociedade.





O texto interno na íntegra:

Caras Novas de Luiz Fernando Veríssimo

O Rio é a capital mundial da operação plástica. Não param de chegar estrangeiros para ver, não o Pão de Açúcar; mas o Pitangui. Quem não consegue reserva com o Pitangui recorre a outros restauradores brasileiros, com menos nome, mas igualmente competentes (é o que dizem, eu não sei. Na única vez que eu consultei um cirurgião plástico ele foi radical: sugeriu outra cabeça. E aquela história do cara que era tão feio que foi desenganado pelo cirurgião plástico?). Os responsáveis pelo turismo no Rio podiam montar um balcão no aeroporto - reserva de cirurgião - para receber os visitantes que chegam tapando o rosto e pedindo informações.


- Que tipo de operação o senhor deseja?


- Papada. Quero um bom homem de papada.


O cirurgião plástico, injustamente chamado de gigolô da vaidade, desempenha uma função social muito importante. Os eventuais exageros não são culpa sua. São os clientes que insistem.


- Minha senhora, é impossível esticar a sua pele ainda mais. Já lhe operei 17 vezes. Não tenho mais o que puxar.


- Desta vez só quero que você tire esta covinha do queixo.


- Isso não é covinha. É o seu umbigo.


Antigamente a cirurgia plástica era um recurso extremo.


- Querida, que bobagem, operar o nariz. Eu gosto do seu nariz assim como está. Casei com seu nariz quando casei com você.


- Acontece que eu não agüento mais o meu nariz. Não posso viver com ele mais nenhum minuto. Não quero mais ver esse nariz na minha frente.


- Mas uma operação plástica...


- Você tem que escolher: eu ele ou eu.


Hoje só falta dar nas colunas sociais:


“Gigi Gavrache reuniu um grupo de amigos para a inauguração do seu novo queixo - o terceiro em dois anos - que recebeu muitos elogios. "Voluntarioso", "sensível", "um clássico", foram alguns comentários ouvidos durante a noite. "Não posso me queixar..." disse Gigi, com sua conhecida verve. "


"Muito comentado o encontro casual de Dora Avante e Scaninha Vabis na pérgola do Copa, sábado pela manhã. As duas estavam com o mesmo nariz. Domage... "


Imagino que no mundo da cirurgia plástica - que é uma forma de escultura com anestesia - devem existir algumas mesmas instituições do mundo das artes, que também são plásticas. Como a fofoca.


- O que você esta achando da nova fase dele?


- Muita influência estrangeira. Só dá perfil romano.


- Achei o queixo da Gigi bem solucionado.


- Mas nada original. Eu estava fazendo queixos assim há cem anos. O romantismo está ultrapassado. Ele não evoluiu.


-Por sinal, não deixe de ir ao meu vernissage.


-Vernissage?


-Vou expor alguns traseiros. Meu trabalho mais recente.


Mas tem um problema que me preocupa. Digamos que a americana rica se operou com o Pitangui. Esta contentíssima com o resultado e prepara-se para embarcar no avião de volta a Dallas. Ela tem que passar pelas autoridades no aeroporto.


- Seu passaporte, senhorita.


- Senhorita, não, senhora.


- Perdão.


- Obrigada.


- Mas... Este passaporte não é seu.


- Como que não? Ai esta meu nome. Gertrude sou eu.


- Mas a fotografia é do Ronald Reagan.


- Ridículo.


- Está aqui. O Ronald Reagan de peruca.


- Essa sou eu.


- Impossível senhorita. Vamos ter que confiscar este passaporte. Providencie outro com a sua fotografia.


*

Aí alguém pergunta, essa é a tua máscara? Não sei dizer se é a minha propriamente, mas meu curso me faz pensar muito a respeito das aparências e do julgamento das mesmas. As apresentações de meus colegas muito tiveram a ver com a personalidade de cada um, ou mesmo, se não diretamente, o seu modo de pesquisa revelava muito sobre quem estava lá na frente. Enfim, de um modo ou de outro, todos mantemos nossas aparências através de nossas máscaras cotidianas, tão misteriosas, tão indecifráveis. Termino o post de hoje com a frase final de minha apresentação:

"Eis nos condenados a nos tornarmos os artistas de nossas vidas, criadores de nós mesmo." (Patrice Bollon, A Moral da Máscara, p. 234)

Um comentário:

Green Mushroom disse...

GRANDE FRASE FINAL! *aplausos*
Era so dar uma paulado no projetor...tinha que ser na tua vez e justo na aula do antonio. Q crueldade!

Adorei a tua mascara e teu tema, pq tu acha q não ficou a tua cara/personalidade? Pq o antonio impos outra ideia? Sinto o mesmo da minha.
Pelo menos a pesquisa é 100% nossa cara, e a mascara de gesso tb.

Me matei de rir nesse texto. "se reunem para mostrar seu novo queixo...não tenho do que me queixar! hahahaahahahahh xD